domingo, outubro 02, 2005

The Man Who Wasn't There (2001) de Ethan Coen & Joel Coen



Aquando da sua estreia, The Man Who Wasn't There foi recebido de formas variadas, tornando-se desde logo num dos menos concensuais da genial dupla que são os irmãos Coen. Tanto saiu vencedor do prémio de melhor realização em Cannes (prémio dividido com David Lynch pelo seu Mulholland Drive) como foi apelidado de aborrecido, pretensioso e mesmo de fracasso. E a verdade é que ainda hoje muitos fãs habituais da dupla o consideram como um dos seus trabalhos menores.

Pessoalmente, considero-o mesmo um dos seus melhores, em muitos aspectos. Com um ritmo deliberadamente lento, a história acompanha uma personagem marginal, alienada de uma realizade que ou não compreende ou simplesmente não lhe interessa. Ed Crane (o barbeiro protagonista da história) é um fantasma, um zombie, da mesma maneira que o são, por exemplo, as personagens do filmes de Pedro Costa (salvo as devidas distâncias, obviamente); é um homem que caminha pela vida, mais como um observador do que como um participante activo. À sua volta gravitam personagens bizarras, que Ed observa com o mesmo ar impenetrável de sempre. E é, ao mesmo tempo, um dos mais sérios e mais hilariantes filmes dos Coen, escondendo debaixo de toda a frieza superficial, algumas camadas realmente interessantes que convém explorar para se tirar todo o partido do argumento delicioso. E é sempre pintado por um ambiente noir genial, para o qual contribuem a excelente fotografia a preto e branco do grande Roger Deakins e as interpretações de todo o elenco, com destaque natural para Billy Bob Thornton, que aqui faz a sua interpretação muito especial da persona de Bogart. E há também algumas piscadelas de olho às velhinhas produções de série B e o resultado final é um óptimo filme, que por vezes parece saído directamente das páginas de um qualquer policial de bolso. A descobrir, a admirar.

Classificação: