terça-feira, novembro 29, 2005

Kinsey (2004) de Bill Condon



Depois do sucesso crítico de Gods and Monsters, Bill Condon regressou este ano com um filme que se faz valer acima de tudo do grande interesse que desperta o tema abordado, bem como das excelentes interpretações que consegue expremer de todo o elenco. Estamos perante um biopic do homem que escandalizou a américa dos anos 40 com os seus estudos sobre a sexualidade humana, e que se interroga sobre os mais variados temas, inclusivé sobre os limites da ciência na explicação das necessidades sexuais do homem, os diversos tipos de sexualidade, o lugar do amor no jogo carnal e, obviamente também reflecte sobre a importância e a relevância do sexo na sociedade.

E neste último aspecto residirá provavelmente a grande força da abordagem de Bill Condon, já que por um lado nos apresenta uma época onde falar sequer de sexo era tabu (algo que ainda hoje se verifica em certas partes do mundo, ou com certas pessoas e instituições, nomeadamente as religiosas, que surgem aqui algo criticadas) mas também devido aos paralelismos que faz com a actualidade, onde a forma como se lida com a sexualidade e o sexo se banalizou - para tirar essa prova, basta ver a maioria das comédias adolescentes, ou anúncio televisivo a uma qualquer marca de telemóveis. Aqui, essa banalização redutora surge representada pelo meio onde Alfred Kinsey vive, a sua família e alunos que, lidando com o sexo de forma tão prosaica, acabam por se envolver em situações de desconforto, diluição de sentimentos, etc...

No entanto, e precisamente por querer ser tudo isto e ainda mais, o filme acaba por nunca se conseguir agarrar convenientemente a nenhuma destas pontas, resultando no final uma sensação de que se podia ter ido mais longe; de que a vida e a obra de Alfred Kinsey foram bem mais interessantes do que aquilo que nos é dado a ver ao longo de cerca de duas horas. Não fossem os grandes actores que compõem o elenco e nem a pertinência da sua temática acabaria por salvar o filme de alguma banalidade. Assim, apesar das falhas, acaba por não fazer mal a ninguém e, quem sabe, esclarecer alguns...