domingo, dezembro 18, 2005

Satyricon (1969) de Federico Fellini



Coisa bem estranha, este Satyricon de Federico Fellini. Por um lado, temos um espectáculo visualmente deslumbrante, com uma direcção de fotografia, artística, guarda-roupa impecáveis, um grandioso sentido de encenação e a irreverência e vitalidade habituais da câmara do realizador italiano. Por outro temos um desfile de excessos que, ao contrário do que acontecia em outras obras de Fellini é... bem... excessivo. São pedófilos, homossexuais, sádicos, assassinos... é a impotência, terramotos, o Minotauro e um semi-deus Hermafrodita.

Tudo isto bebe a sua inspiração no clássico de Petrónio e, aparentemente, pouco ou nenhum sentido faz ao espectador comum. Nem a qualquer outro tipo, já que estamos a falar nisso. Assim, pouco mais nos resta do que nos deliciarmos com as qualidades geniais do cinema de Fellini, enquanto artista visual e também, sejamos juntos, delirar um pouco com o seu mundo à parte, onde convivem todo o tipo de personagens, cada uma mais extravagante, estranha ou demente do que a anterior. E sim, o filme tem momentos em que se atinge o cume da sátira e do humor negro, bastante certeiro, idiota por vezes, no melhor dos sentidos. Mas por outras consegue até cansar um pouco, principalmente porque quem assiste nem sempre tem a certeza do que raio se está a passar no ecrã. Ainda assim, os momentos bons são mesmo muito bons. Os outros, bem, são necessários enquanto se espera por nova prova de génio.