sexta-feira, novembro 04, 2005

Ils se marièrent et eurent beaucoup d'enfants (2004) deYvan Attal





Ils se marièrent et eurent beaucoup d'enfants
é, na minha opinião uma (senão mesmo a maior) surpresa do ano. O filme centra-se nas vidas de três amigos que, como pessoas normais, têm problemas na vida. Vincent é casado com uma mulher que, segundo os amigos, é a esposa que todos queriam ter. Vivem juntos, têm um filho e são aparentemente felizes, isto se excluirmos o facto de Vincent ter uma amante. George é igualmente casado mas aparentemente não tão feliz como o outro casal amigo, uma vez que não consegue lidar da melhor forma com os ideais feministas da mulher. E por fim, o 'bon vivant' Fred que, não sendo casado, colecciona mulheres e é, também aparentemente, o mais feliz e o mais invejado dos três. De facto, o filme vive das aparências das personagens e é na sua desconstrução que o filme se revela exímio.

Aliando excelentes registos cómicos com momentos drámaticos assinaláveis, "Ils se marièrent..." é um retrato cru e verosímil da amizade, da infidelidade e da vida a dois. Com cenas que ficarão concerteza na memória, este é um filme que marca pela sua jovialidade e pela abordagem descomplexada que faz da vida. No meio da amálgama de sentimentos que o filme retrata, Charlotte Gainsbourg emerge de uma forma estrondosamente natural. Com uma personagem de uma solidez tremenda, a actriz consegue um desempenho acima da média e tem muita responsabilidade nos melhores momentos do filme (é impossível ficar indiferente à cena na Virgin, ou à do café).

Outro dos pilares fundamentais do sucesso do filme é o realizador, argumentista e protagonista Yvan Attal, que se como protagonista está mediano, na realização tem de facto um desempenho superior. Manobrando com mestria a camâra, o realizador imprime vitalidade à película através de cortes entre planos e sequências que, principalmente no caso do restaurante onde jantam a mulher e amante de Yvan, resultam muito bem. Aliado ainda a uma montagem vigorosa, "Ils se marièrent..." é assim um objecto que vale por si só e que se destaca pela energia e pelo ritmo que impõe. Um filme quase obrigatório.


P.S. - Os últimos trinta segundos são inexplicavelmente maus. Mas, exactamente por serem tão insignificantes, prefiro assumir a sua inexistência pois não é justo criticar um filme que até ali estava a ser bem conseguido, pelos devaneios artísticos de última hora de Yvan Attal.

Classificação: