domingo, novembro 13, 2005

Quinzena dos Realizadores

Esta nova rúbrica agora inaugurada pretende destacar a carreira de alguns realizadores tão apreciados pelos cinéfilos, analisar um pouco mais aprofundadamente a sua obra, etc... Assim, tal como fizemos há uns tempos aquando da estreia de Charlie and the Chocolate Factory analisando grande parte da filmografia de Tim Burton, iremos fazer para outros mestres: ao longo de quinze dias, os membros da equipa do Eternal Sunshine irão deixar pequenos comentários à obra de determinado autor. Assim, e aproveitando a estreia de Elizabethtown esta semana, abrimos a rúbrica com...

Cameron Crowe



Crowe nasceu a 13 de Julho de 1957 em Palm Springs, na California. Desde muito novo tornou-se um ávido apreciador de música e, após escrever alguns artigos para o jornal do liceu, Crowe começou a sério a carreira de jornalista aos 15 anos, escrevendo alguns artigos para, nada mais nada menos, do que a Rolling Stone, talvez a mais prestigiada revista de música do mundo. Alguns anos e umas centenas de artigos e reportagens sobre algumas das melhores bandas rock de sempre, Crowe escreveu o livro Fast Times at Ridgemont High, sobre um grupo de jovens de liceu, sobre as relações deles com a vida, o amor e... a cultura pop. O livro foi um sucesso e Hollywood foi rápida a procurar os seus serviços convidando Crowe a adaptar o seu próprio romance ao grande ecrã. O resultado foi o filme com o mesmo título, saudável sucesso de bilheteiras, que ajudou a lançar a carreira de jovens actores como Sean Penn ou Jennifer Jason Leigh. Era o início de carreira de Cameron Crowe em Hollywood, que viria a resultar ainda em mais um filme com argumento da sua autoria, The Wild Life, realizado por Art Linson mas que não se viria a revelar tão bem sucedido.

Assim, o passo seguinte acabou por ser lógico. Além do bem sucedido escritor e argumentista, Crowe lançou-se em 1989 na realização cinematográfica, iniciando-se com a excelnte e tocante comédia romântica Say Anything..., tendo como protagonista um jovem John Cusack. O sucesso crítico e comercial do filme (Roger Ebert atribuiu-lhe a classificação máxima) estabeleceu-o firmemente na indústria e apenas 3 anos volvidos e Singles estreia-se, mais uma vez com saudáveis resultados comerciais. Ambos os filmes se centram em personagens situadas entre o fim da adolescência e o início da idade adulta, exploram relações entre eles e possuem uma forte componente pop, cabendo nomeadamente à música um papel importantíssimo não só para estabelecer ambientes mas acima de tudo para caracterizar as suas personagens, algo que viria a verificar-se em todos os seus filmes.

Nenhum deste sucesso, contudo, se poderia comparar ao do seu filme seguinte, Jerry Maguire, de 1996, uma comédia romântica sobre um agente desportivo em crise existêncial e profissional. Com Tom Cruise como protagonista e apresentando ao grande público nomes como Renée Zellweger e Cuba Gooding Jr., o filme arrecadou 153 milhões de dólares só nas bilheteiras americanas, recebou inúmeros louvores da crítica e ainda deu a Crowe as suas primeiras nomeações para o Oscar, nas categorias de Melhor Filme e Melhor Argumento Original. Assim, o realizador passou a pertencer ao grupo de grandes nomes do cinema americano, e obteve total liberdade para conceber o seu filme mais auto-biográfico, Almost Famous, precisamente sobre um miúdo que, nos anos 70, começa a escrever artigos sobre música para a Rolling Stone. O filme estreou em 2000 e foi dos mais aclamados pela crítica nesse ano, e dando a Crowe o Oscar pelo Melhor Argumento Original. Quase de imediato, em 2001, estreou Vanilla Sky, novamente com Tom Cruise como protagonista. O filme, um remake do filme espanhol Abre los Ojos, de Alejandro Amenábar, foi um novo sucesso comercial, ainda que tenha sido um dos seus primeiros filmes a encontrar alguma resistência por parte dos críticos. O que é certo é que Crowe adaptou o filme espanhol à sua própria sensibilidade, tornando-o ao mesmo tempo num projecto claramente americano e, acima de tudo, numa obra pessoal, recheada de referências cinéfilas e musicais.

De referir ainda que, entre Jerry Maguire e Almost Famous, Cameron dedicou-se à elaboração do livro Conversations with Wilder. Seguindo a estratégia de Truffaut com Alfred Hitchsock, Cameron conduziu uma série de longas entrevistas com o realizador de Sunset Boulevard, um dos seus grandes ídolos, compilando depois um livro como resultado dessas longas horas de conversações.

E assim chegamos a Elizabethtown, a sua mais recente obra, actualmente em exibição entre nós. Esperemos que o filme marque mais um ponto alto numa carreira cinematográfica que ainda não conheceu qualquer falhanço e que, acima de tudo, está marcada por uma visão muito pessoal (e doce e optimista) da vida, que lhe confere uma clara marca de autor ao mesmo tempo que detém a confiança do grande público, algo raro no actual panorama cinematográfico. E que continue assim por muitos e muitos anos...