terça-feira, agosto 30, 2005

The Hitchhiker's Guide to the Galaxy (2005) de Garth Jennings



The Hitchhiker's Guide to the Galaxy acaba por resultar mais como uma curiosidade do que propriamente como filme. Se por um lado nos presenteia com gags inspiradíssimos, por outro apresenta grandes problemas na sua narrativa, acabando a certa altura por se perder no seu próprio universo. Esse caos narrativo talvez funcione muito bem no livro de culto (que ainda não li, mas do qual apenas ouvi coisas boas) mas em filme acaba por se tornar algo saturante.

Ainda assim, há coisas boas a reter desta louca viagem à boleia pelo espaço, onde entre outras coisas encontramos personagens completamente tresloucadas e irracionais, desde o presidente da galáxia ao seu principal rival (respectivamente Sam Rockwell e John Malkovich, como duas das melhores coisas do filme) até um robô deprimido ou os seres mais temíveis do universo, sem medo de submeter qualquer um aos horrores da... burocracia espacial. E depois temos também algumas caras conhecidas da britcom, sendo que apenas há a destacar pela negativa a presença algo amorfa de Zooey Deschanel, já que nem a sua personagem nem a sua interpretação se revelam particularmente fascinantes.

Apesar de acabar por resultar a espaços (toda a paródia espacial aos costumes terrestres tem muito potêncial, bem como a sua vertente mais séria quando aborda questões importantes sobre a vida e o Universo), o filme é claramente desequilibrado. Além do mais, é complicado recomendá-lo a um tipo de público, pois se por um lado tem o humor suficiente para divertir qualquer um, por outro é capaz de ser demasiado estranho para muito boa gente...

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quinta-feira, agosto 25, 2005

Boogeyman (2005) de Stephen Kay



Há muito tempo que não apanhava um barrete tão grande como este Boogeyman (melhor, acho que nunca vi nada tão mau como este filme!). É um filme que não segue linha narrativa alguma e se limita a uma montagem forçada de sequências supostamente aterradoras (uma cadeira, um boneco e vários armários!). Edição de som medíocre e realização abaixo de zero, consequentemente, uma direcção de actores execrável, este Boogeyman não tem nada que se aproveite. Os sustos (sustos? que sustos?) limitam-se ao som, e a substância simplesmente não está lá. Prometia alguma coisa, jogando com a personagem do Bicho-Papão que se esconde no armário, mas acaba por ser um conjunto de cenas isoladas, levantando alguns mistérios e desvendando-os da pior maneira possível. Há que ter medo de ir parar a uma sala de cinema para ver o filme, não do filme em si!

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domingo, agosto 21, 2005

Heat (1995) de Michael Mann



Há aqueles filmes que nos transcendem por completo, deixando em nós uma marca e várias imagens a percorrerem a nossa mente à velocidade da luz. Normalmente são os filmes mais profundos que nos fazem isso, na maior parte das vezes, dramas. Mas Michael Mann fez-o com uma das maiores obras (talvez mesmo a maior) da década de 90, que por acaso é um policial, ou pelo menos, esse rótulo é-lhe colado, diga-se, injustamente. Esse título ser-lhe-ia aplicado se todos os policiais fossem tão profundos e intensos como Heat, filme geracional que confronta dois dos maiores titãs da indústria cinematográfica de Hollywood: Al Pacino e Robert DeNiro.
Os seus créditos iniciais, que mostram uma linha de comboio que relata uma cidade relativamente calma àquela hora, demonstra desde logo que algo de surpreendente irá acontecer. E se é a isso que o filme de Mann se propõe, é isso que cumpre. Sim, porque Heat quebra todas as regras do policial, não podendo desde logo ser incluindo no género. Mann é talvez o melhor realizador da actualidade a filmar cenas de acção, segurando na câmara manualmente, permitindo e facilitando ao espectador aproximar-se das personagens magistralmente edificadas.
Em Heat, a banda sonora assume um papel importantíssimo, fundamental, criando verdadeiros momentos de tensão (o assalto ao banco e a cena final são das coisas que mais criam emoções à flor da pele que já vi). A complexidade do filme máximo de Mann aborda um pouco de tudo, desde o drama familiar à traição, ou mesmo à caça ao rato, juntando Al Pacino (para mim o melhor actor em actividade), Robert DeNiro (subtilmente subtíl) e Val Kilmer, este último não estando à altura dos dois primeiros, assumindo ainda assim uma interpretação boa, mas nada de extraordinário, como já é habitual do actor. Destaque ainda altamente positivo para a fotografia que dá ao filme um toque verdadeiramente especial, que o identifica tão bem, dando provas disso na caracterização, por exemplo, da casa de Neil, dando-lhe um aspecto leve mas solitário, ou mesmo nas cenas de acção, que conferem a Heat um aspecto único.

Em poucas palavras, Heat é o que todos os policiais deviam ser: tenso, abrangente, crítico, dramático e arrebatador. Um dos melhores filmes dos anos 90 e um dos meus preferidos!

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sexta-feira, agosto 19, 2005

The Good, the Bad and the Ugly (1966) de Sergio Leone



O western sempre foi um género cinemtográfico que despertou interesse em mim, apesar de actualmente esse estilo já ter sido ultrapassado, e de tudo dentro deste género já ter sido experimentado e trabalhado, e actualmente não existir ninguém interessado em criar westerns. Juntamente com a definição de western, vem com certeza o nome Clint Eastwood, o cowboy e Leone, o génio. Neste filme de Leone, Eastwood é o protagonista, portanto "O Bom", assumindo uma interpretação e pêras. Foi talvez esta a confirmação de Eastwood no mundo do cinema, nome que actualmente ainda é dos mais consagrados e chamativos no panorama de Hollywood.
Filmado sobre as fantásticas paisagens de Espanha e Itália, esta obra de Leone é mais do que um simples western. É antes disso, uma história que pode ainda actualmente ser considerada como uma lição de moral, criticando quase que miraculosamente a sociedade de hoje em dia, individualista e egocêntrica. Prodígio na montagem, na banda sonora e na direcção de actores, bem como no enquadramento de planos, The Good, the Bad and the Ugly é uma obra singular, a ser descobrida por todos os tipos de público.

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quinta-feira, agosto 18, 2005

Batman Returns (1992) de Tim Burton



Um berço com um bebé indesejado é lançado nos esgotos assombrosos de Gotham City e é nessa altura que a banda sonora começa em crescendo, culminando precisamente no momento em que um bando de morcegos inunda o ecrã e o título do filme surge em todo o seu esplendor: Batman Returns. E que regresso foi este quando na minha infância sentado naquela sala de cinema vi um dos filmes mais marcantes da minha vida. Tim Burton foi a par com Steven Spielberg o primeiro realizador cujo nome nunca fixei de imediato. Sabia que cada filme seu era único e sombrio e espectacular. E assim foi porque Tim Burton, depois de bater recordes de bilheteira com o primeiro Batman e se revelar como o genial criador do magnífico, conseguiu um controlo absoluto sobre a produção desta sequela, assinando aquilo que está muito longe do típico filme de super heróis e mais próximo do universo da tragédia.

A sequência que descrevi no início do comentário marcou-me desde o primeiro momento e guardo-a até hoje como intocável. Mesmo sabendo que estamos perante um filme sobre Batman, os créditos de abertura anunciam algo diferente e aterrador, que se vem a confirmar logo de seguida. É que além de filmar esta genial história, Burton brinca com as suas grandes referências cinéfilas, particularmente do âmbito do terror (os filmes da Hammer, e mesmo expressionismo alemão - a personagem de Christopher Walken tem o mesmo nome do actor que encarnou Nosferatu no mítico filme de Murnau) e atinge aquele que porventura é ainda o pico do seu estilo gótico. Muito se criticou na altura o facto de o filme relegar um pouco a presença de Batman para segundo plano, centrando-se mais nos vilões (neste caso, Pinguim e Catwoman) e a verdade é que Batman não é mais protagonista do que os vilões. Mas o que se passa é que Burton é um autor, e como tal não resistiu a contar a história destas personagens marginalizadas. E de certa forma, todos os vilões funcionam quase como faces do próprio herói: órfão, com um passado trágico, rico...

Esta é uma obra de arte disfarçada de blockbuster de Hollywood, e é também o melhor filme de Tim Burton, um autor que se viria a revelar como um dos mais criativos e geniais de toda uma geração. Cada filme seu é um mundo, e um mundo que vale a pena visitar, e onde nos podemos deliciar e comover. E a verdade é que Batman Regressa tem ainda a capacidade de conduzir o espectador às lágrimas, com um dos mais belos e poéticos finais de que me consigo lembrar, e o filme resulta comigo ainda hoje, tão bem ou melhor do que quando o vi pela primeira vez, há mais de doze anos atrás.

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terça-feira, agosto 16, 2005

Big Fish (2003) de Tim Burton



Há já algum tempo que pretendia rever este filme de Burton. É que no primeiro visionamento não me consegui encontrar com o espírito Burton no filme, muito menos com as personagens, daí a o filme me ter passado quase completamente indiferente. Mas neste revisionamento algo mudou.
Finalmente consegui encontrar-me com as personagens e com os sentimentos das mesmas, e, acima de tudo, consegui reconhecer o espírito Burton em Big Fish. Até digo mais: Burton está espalhado em todos e em cada um fotograma do filme. Com este seu filme completamente ignorado pela Academia, o realizador apresenta-nos um conjunto de fábulas espantosas. Dá-nos a conhecer um simpático velhote, cujo filho não o aceita como ele é, um contador de histórias, um sonhador. Desenvolvido em duas linhas narrativas, Big Fish narra-nos as fabulosas histórias do simpático Edward Bloom, repartidas pela sua juventude e pelo seu envelhecimento.
Com um dos finais mais surpreendentes e tocantes do passado ano e, quem sabe, de sempre, Big Fish é uma fábula que nos hipnotiza e embruxa até ao seu final, fazendo-se sempre acompanhar por um Burton omnisciente e subtil. Fabuloso!

Classificação: (entre os 9 e os 10/10...)

sábado, agosto 13, 2005

Edward Scissorhands (1990) de Tim Burton



Que Tim Burton é dos melhores realizadores em actividade já todos sabemos. Com os seus mundos de fantasia, repletos de imaginação e inspiração, este realizador acaba por conquistar uma parte considerável do grande público. E é sempre bom revisitar (no meu caso, visitar) a carreira deste senhor e perdermo-nos nesses infindáveis mundos como só Burton sabe criar.
Fazendo-se sempre acompanhar pelas soberbas melodias compostas por Danny Elfman, Burton criou em 1990 aquele que viria a ser uma obra singular que agora figura na lista dos meus preferidos. Este filme de Burton conta-nos a história de Edward, um ser humano criado geneticamente criado por um inventor, que porventura não tinha deixado a sua obra concluída, ficando Edward com tesouras em vez de mãos.
Ao longo do filme, desenvolve-se uma linha narrativa na qual acompanhamos a integração de Edward na sociedade. No entanto, as pessoas continuam com um certo medo daquele que é chamado por alguns como um demónio.
Burton cria aqui a sua obra máxima, constituindo uma fábula encantadora, tocante (sem cair em lamechices) e arrebatadora. Um incontornável marco da 7ª arte, sem sombra de dúvida.

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quarta-feira, agosto 10, 2005

Shaun of the Dead (2004) de Edgar Wright



É bom pensar que ainda existem comédias com qualidade. Triste é saber que as distribuidoras cinematográficas portuguesas não se interessam por elas.

Shaun of the Dead do britânico Edgar Wright é uma comédia totalemnte inspirada e genial. Assumindo-se desde o início como paródia de Dawn of the Dead, um clássico do terror, este filme repleto de humor britânico acaba por abraçar uma quantia considerável de géneros cinematográficos, desde a comédia propriamente dita, ao terror, passando por uns toques de comédia romântica.
Ao longo do filme, acompanhamos Shaun, um funcionário de uma loja de electrodomésticos, que com o passar das horas se vai apercebendo que o mundo se está a encher de zombies. É também ao longo da sua jornada que Shaun vai resgatando as pessoas de que mais gosta, ainda que acabe por perder algumas delas.
Shaun of the Dead tem o que muitas comédias deviam ter: uma história inteligente. E atrás dessa história é que se escondem algunas toques de humor, sempre negro, por vezes mesmo para suavizar certos excertos de dramas familiares e/ou amorosos. Em todo o seu conjunto, a comédia britância de Wright acaba por funcionar como um entretenimento altamente eficaz, nunca se comprometendo, e tendo um travo delcioso. Um must-see.

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segunda-feira, agosto 08, 2005

Fantastic Four (2005) de Tim Story



Fantastic Four é, na minha opinião, um filme ambíguo. Se analisarmos o valor do filme pelas suas pretensões , ser apenas um filme de bom entretenimento, o filme é de facto bem conseguido, mas se o ponto de vista for a banda desenhada do qual o filme foi adaptado, a importância da mesma, e até mesmo a consistência dramática das personagens, Fantastic Four é um filme falhado.

Tim Story (que até aqui tinha realizado o modesto, para ser simpático, Táxi) não teve, na minha opinião, capacidades e, acima de tudo, não teve um background cinematográfico suficiente que lhe permitisse assinar uma boa realização neste blockbuster. De facto, todos os planos e sequências do filme são de um profundo amadorismo e chega mesmo a ser irritante. Mas não é aqui que se centra o principal problema do filme, mas sim no argumento. Acredito que as intenções fossem as melhores, mas num só filme era impossível conseguir focar todos os elementos presentes na BD de uma forma consistente. Assim, somos invadidos por uma série de acções paralelas, muitas delas mal construidas. Reparem, temos o elemento show-off da Human Torch, temos a relação amorosa entre Reed e Susan, temos o dilema existencial de Ben Grimm, temos a decadência e os ciúmes de Von Doom (que quase tinha ficado noivo de Susan), temos a relação conflituosa entre Ben e Johnny (a mais bem conseguida, diga-se) ... Ou seja, muita matéria para um único filme.

Relativamente aos actores estes apresentam-se a um nível razoável, sobressaindo Chris Evans como o elemento que melhor captou a essência da personagem (Human Torch), e Julian McMahon como o elo mais fraco dos actores, construindo um vilão profundamente banal, com todos os clichés imaginários e sem a força que o papel exigia.

Enfim, Fantastic Four não é, de longe, uma brilhante adaptação da BD mas enquanto objecto de entretenimento acaba por cumprir, tornando-se assim num filme leve da tão falada silly season.

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quarta-feira, agosto 03, 2005

Memento (2000) de Christopher Nolan



É difícil escrever sobre Memento. Posso começar por dizer que Nolan avançou para uma estrutura narrativa quase inovadora, estrutura essa que viria a ser adoptada no ano seguinte por Gaspar Noé no seu retrato cinemamtográfico sobre o mundo underground. Por outro lado, o filme de Nolan não se suporta apenas por esse prodígio da montagem/argumento. Sustenta-se sobretudo pela sua intensa carga dramática e por interpretações altamente competentes, destacando-se principalmente Guy Pearce como o "amnésico" Leonard.

É notável o trabalho de Nolan por detrás das câmaras, e a inteligência do argumento do mesmo. Contando com tudo isto, Memento acaba por metaforizar a sua história para o mundo oportunista que nos rodeia, e pela falsidade constante (chamaria-lhe mesmo traição) das pessoas que se revelam com melhores intenções.

Não me atrevo a atribuir-lhe classificação, pelo menos para já.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Videodrome (1983) de David Cronenberg



Uma viagem psicadélica aos confins da loucura ou uma experiência-limite sobre a acção da televisão sobre a mente humana? Pode-se dizer que Videodrome é isso e muito mais. É também um filme de terror violento, uma história de amor e um drama, misturado com uma trama de mistério absolutamente envolvente. É um filme de David Cronenberg, e aqueles familiarizados com a sua obra saberão aquilo que esperar. James Woods encarna Max Renn, um produtor televisivo que se depara com o Videodrome, um programa que leva ao extremo a ideia de reality-TV que hoje temos.

De notar que este filme, de 1983, já tocava em assuntos tão interessantes e muito provavelmente mais actuais do que nunca. Cronenberg sempre foi um cineasta com uma visão muito negra do homem e da sua condição, parecendo por vezes como que a anunciar o apocalipse inevitável. Fica é desde já o aviso aos mais sensíveis de que se calhar é bom afastarem-se do filme. É que o realizador é tão ousado a filmar a loucura surrealista como o é a filmar a destruição da carne. E não está particularmente dedicado em esclarecer e estampar à frente do espectador os seus pontos de vista. É antes uma obra que incentiva ao máximo o espectador a pensar sobre eles e, inevitavelmente, discutí-los. E é acima de tudo um grande filme.

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OldBoy (2003) de Chan-wook Park



"Não importa que seja um grão de areia ou uma pedra. Na água, ambos se afundam."

A vingança tem vindo a ser abordada pela 7ª arte (mais poderosa de todas as artes, diga-se de passagem) em forma de violência física, de modo a chocar o espectador e este ficar marcado. Partindo de que ao ficarmos marcados ao ver um filme este nos atingiu, a utilização de actos violentos não é mais do que uma estratégia para retratar a vingança de modo a atingir o público.
Nesta temática, Chan-wook Park apresenta-nos o segundo volume da sua trilogia de vingança, OldBoy. E este não é apenas um ensaio da sede de vingança de um ser humano, mas é a raiva interior que este sente após ficar quinze anos fechado num quarto sem ver a luz do dia, sem qualquer tipo de justificação para ali se encontrar. Ao longo do filme acompanhamos Oh Dae-Su, um ser humano no estado mais primitivo do termo que procura desenfradamente vingar-se de quem o fechou no tal quarto. Acompanhada por uma realização de génio de Chan-wook Park, a narrativa de OldBoy roça o terror psicológico e testa os limites do ser humano. O mais interssante na obra-prima do realizador coreano é que esta consegue juntar um pouco de tudo, desde o humor (coberto de negrume) à pornografia. Um filme marcante que se afirma desde os minutos iniciais como um dos melhores do ano, sem qualquer sombra de dúvida.

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