terça-feira, novembro 29, 2005

Kinsey (2004) de Bill Condon



Depois do sucesso crítico de Gods and Monsters, Bill Condon regressou este ano com um filme que se faz valer acima de tudo do grande interesse que desperta o tema abordado, bem como das excelentes interpretações que consegue expremer de todo o elenco. Estamos perante um biopic do homem que escandalizou a américa dos anos 40 com os seus estudos sobre a sexualidade humana, e que se interroga sobre os mais variados temas, inclusivé sobre os limites da ciência na explicação das necessidades sexuais do homem, os diversos tipos de sexualidade, o lugar do amor no jogo carnal e, obviamente também reflecte sobre a importância e a relevância do sexo na sociedade.

E neste último aspecto residirá provavelmente a grande força da abordagem de Bill Condon, já que por um lado nos apresenta uma época onde falar sequer de sexo era tabu (algo que ainda hoje se verifica em certas partes do mundo, ou com certas pessoas e instituições, nomeadamente as religiosas, que surgem aqui algo criticadas) mas também devido aos paralelismos que faz com a actualidade, onde a forma como se lida com a sexualidade e o sexo se banalizou - para tirar essa prova, basta ver a maioria das comédias adolescentes, ou anúncio televisivo a uma qualquer marca de telemóveis. Aqui, essa banalização redutora surge representada pelo meio onde Alfred Kinsey vive, a sua família e alunos que, lidando com o sexo de forma tão prosaica, acabam por se envolver em situações de desconforto, diluição de sentimentos, etc...

No entanto, e precisamente por querer ser tudo isto e ainda mais, o filme acaba por nunca se conseguir agarrar convenientemente a nenhuma destas pontas, resultando no final uma sensação de que se podia ter ido mais longe; de que a vida e a obra de Alfred Kinsey foram bem mais interessantes do que aquilo que nos é dado a ver ao longo de cerca de duas horas. Não fossem os grandes actores que compõem o elenco e nem a pertinência da sua temática acabaria por salvar o filme de alguma banalidade. Assim, apesar das falhas, acaba por não fazer mal a ninguém e, quem sabe, esclarecer alguns...

sábado, novembro 26, 2005

Harry Potter and the Globet of Fire (2005) de Mike Newell



De todos os filmes da saga, este novo Harry Potter é provavelmente o melhor e mais bem construído. Apesar de demonstrar falhas notórias, nomeadamente quando pretende inserir emoções a martelo através de melodias despropositadas, o filme conta com alguns valores de produção, nomeadamente no que toca à sua fotografia, asfixiante, diga-se de passagem, e alguns movimentos de câmara mais inspirados de Newell. Contudo, peca por não contar com interpretações sólidas de sobra, e as prestações do leque de jovens que compõe a maioria do elenco balança constantemente entre o bom e o mau, sendo, portanto, composições desiquilibradas.
Todavia, a banda sonora quase invisível funciona a favor do filme, ainda que a sua estrutura narrativa e das personagens não seja nada de especial. Funciona, a espaços, como um entretenimento eficaz e é, provavelmente, uma das melhores escolhas que se encontra actualmente em cartaz. Isto claro, se não esperarmos mais do que isso.

Classificação:

Cinema em Casa

Mais um sabádo mais 5 bons filmes para verem durante a semana. São todos filmes diferentes e, confesso, uns são melhores do que outros, mas aqui há sempre espaço para a diversidade e para diferentes gostos.

Vamos então aos cinco filmes desta semana:

The Count of Monte Cristo (2002) de Kevin Reynolds



Edmont Dantes (James Caviezel), é, assim, vítima de uma conspiração e traição que lhe fora movida por quem menos esperava. Na prisão, conhece o Abade Faria (Richard Harris) que lhe dá a formação didáctica que não tinha e que com ele projecta uma fuga. Depois de 13 longos anos de cativeiro, Dantes logra finalmente fugir. Na posse de um mapa do tesouro que lhe permite obter uma fortuna incalculável, torna-se então no Conde de Monte Cristo. O seu objectivo maior transformou-se na busca de vingança sobre os que o traíram e, à cabeça da sua lista, vem o amigo de infância e de viagens pelo mar, Fernand Mondego (Guy Pearce)
Baseado no célebre clássico do mesmo nome escrito por Alexandre Dumas, este não é um filme consensual. Amado por muitos, há quem critique o filme por ser uma adaptação pouco fiel do livro e redutor da sua magnificência. O melhor é verem e tirarem as vossas próprias conclusões.

Sábado, 16H30, SIC

Punch-Drunk Love (2002) de Paul Thomas Anderson




Barry Egan (Adam Sandler) é, aparentemente, um homem como qualquer outro. Ele é também, pese embora não demonstre grandes virtudes para o negócio, um banal empresário ligado ao ramo de artigos para casas de banho. No entanto, debaixo de uma capa de homem dócil, Barry esconde um carácter violento que o leva a ter acessos de fúria incontroláveis. Isso, talvez por ter crescido junto a sete irmãs que sempre sentiram a necessidade de o controlar e censurar. Um dia, entre as atitudes que toma quase inimagináveis de tão absurdas, ele conhece Lena (Emily Watson) a amiga de uma das irmãs. Esta é uma mulher simpática e compreensiva que demonstra interesse por si e a sua vida parece ganhar um novo rumo. O que poderá tornar-se de difícil consecução por motivo dos seus peculiares atributos mentais.
Depois de Magnolia, Paul Thomas Andersen faz o que muitos julgavam impossível, manter o mesmo nivel de qualidade. Para além disto este filme é também ele um feito, porque conseguiu transformar Adam Sandler num bom actor dramático.

Sábado, 00:15, RTP1

The Godfather - Part III (1990) de Francis Ford Coppola



Michael Corleonde é o poderoso líder de uma família. Aos 60 anos dominam-no duas paixões: libertar a sua família do mundo do crime e encontrar um sucessor. E há um filho ilegítimo que manifesta esse desejo.
É verdade, quem acompanha de perto esta secção tem a oportunidade de ver, ou rever, a triologia do Padrinho. Depois não digam que eu não avisei.

Domingo, 22h30, AXN

Big Fish (2003) de Tim Burton



Will Bloom vai visitar o pai que está muito doente e reconcilia-se quer com ele, quer com a opinião que tinha dele e descobre que a verdade tem muitos rostos. Esta é mais uma incursão ao mundo maravilhoso de Tim Burton. Desta vez, são-nos narradas as viagens fabulosas de um caixeiro-viajante.
Big Fish é para muitos o melhor filme de Tim Burton. Eu não serei a pessoa certa para o elogiar quando temos aqui no blog alguém que simplesmente adorou o filme. Não é verdade Miguel Galrinho?

5ª feira, 17H20, Lusomundo Premium

Being John Malkovich (1999) de Spike Jonze



Craig vai trabalhar como arquivista numa empresa situada no 7º andar e meio de um prédio em Nova Iorque. É aí que conhece a sensual Maxine, por quem se apaixona. Ao descobrir no seu gabinete uma pequenina porta que dá acesso ao cérebro do actor John Malkovich, Craig fica muito perturbado e conta a Maxine, que vê logo no facto uma oportunidade de negócio...
Esta é uma sugestão diferente, de um filme também ele singular. Com bons desempenhos, uma grande realização mas, acima de tudo, um genial argumento este é sem dúvida um filme a ver.

Sexta-Feira, 19h00, Lusomundo Happy
[Sinopses: 7arte.net]

quinta-feira, novembro 24, 2005

Nas salas esta semana

DESTAQUE DA SEMANA
Harry Potter e o Cálice de Fogo
De MIKE NEWELL, com DANIEL RADCLIFFE, EMMA WATSON, RUPERT GRINT, MICHAEL GAMBON, MAGGIE SMITH, ALAN RICKMAN, BRANDON GLEESON, MIRANDA RICHARDSON, GARY OLDMAN e RALPH FIENNES

Será, sem dúvidas, um dos maiores sucessos de bilheteira do ano. Desta vez, a realização do filme coube a Mike Newell (Quatro Casamentos e um Funeral), mas isso pouco importa. O fenómeno literário (e de marketing) de Harry Potter está destinado a sê-lo também no cinema. Espera-se que, ao menos, o filme siga a onda dos anteriores que, sem maravilhar, mostrou ser um agradável entretenimento para toda a família. Destaque ainda para o elenco cada vez maior, de filme para filme...

Outras Estreias:
Proof
A dupla bem sucedida de A Paixão de Shakespeare, Gwyneth Paltrow e John Madden (realizador) junta-se a outros nomes de peso como Anthony Hopkins, Jake Gyllenhaal e Hope Davis na adaptação da peça de David Auburn sobre um brilhante matemático que sofre de perturbações mentais e a sua filha, que receia ter herdado dele essa "loucura". A premissa e o elenco prometem bastante, num filme que já chegou a ser falado nas nomeações para os Oscars do ano passado, mas que foi acolhido com alguma indiferença pela crítica norte-americana.

Into the Blue
Ao que parece, é um filme feito para os espectadores se deliciarem a olhar para os corpos dos actores, que se passeiam em trajes reduzidos pelo ecrã - basta olhar para o cartaz do filme. Ah, mas parece que é também um thriller de acção passado no fundo do mar, que envolve barões de droga, muita adrenalina e aparentemente pouca ou nenhuma substância...

Cry_Wolf
Filme de terror com adolescentes e com Jon Bon Jovi no elenco (talvez o terror venha mesmo daí). Parece que se trata de um filme sobre o efeito da mentira (talvez inspirado na pessoa que disse a Jon Bon Jovi que seria bom apostar numa carreira na interpretação) no seio de um grupo de adolescentes irresponsáveis, que espalham pelo liceu que um assassino de nome Cry Wolf anda a coleccionar vítimas.

domingo, novembro 20, 2005

Vanilla Sky (2001) de Cameron Crowe



Será porventura um dos filmes menos consensuais da carreira de Cameron Crowe, mas que quiser levar mínimamente a sério este esforço do realizador, rapidamente compreenderá que Crowe levou muito a sério a tarefa de realizar este remake do êxito espanhol Abre los Ojos. E o melhor que se pode dizer de um filme com estas características é que não é melhor nem pior do que o original. É simplesmente diferente o suficiente para merecer uma nova abordagem. Na altura da sua estreia, Crowe fez questão de referir frequentemente que, mais do que um remake, Vanilla Sky é uma cover ou, se quisermos, uma nova versão de um filme já existente, como tantas bandas musicais fazem de outros êxitos, oferecendo-lhes um cunho pessoal.

E a verdade é que este é um filme onde a marca pessoal de Crowe está espalhada por toda a sua duração. Num filme onde as memórias que construímos ao longo da vida se tornam essenciais, era importante uma abordagem deste género ao material. O filme está impregnado de cultura pop, tanto quanto a vida de qualquer pessoa o está hoje em dia. E a abordagem do realizador aqui é aquela que muitas vezes vimos nos seus outros filmes, mais do que tentando desenvolver os pontos mais intrigantes do seu thriller (sim, porque Vanilla Sky é também um mistério fascinante, pontuado por momentos de pura ficção científica) ou, como diz a letra que Paul McCartney compôs para o tema principal do filme, é um filme sobre "o doce e o amargo" da vida. É um filme sobre a vida, o amor e, em última instância, sobre as consequências das decisões que tomamos ao longo do tempo em que estamos vivos.

E é também (mais) um filme onde Tom Cruise mostra como é um excelente actor, onde Cameron Diaz tem o melhor desempenho da sua carreira, onde Jason Lee surge igual a si próprio, ou seja, como o brilhante secundário, responsável por alguns dos melhores momentos do filme e, sejamos justos de uma vez por todas, também Penélope Cruz surge sem falhas, com uma interpretação bastante sólida, repetindo o seu papel do filme original, mas desta vez em inglês. E é, apesar das circunstâncias em que foi feito (o projecto surgiu como uma encomenda de Tom Cruise, que comprou os direitos do filme e convidou Crowe, com quem já havia colaborado com muito sucesso em Jerry Maguire, para escrever e realizar o remake), e por muito que digam o contrário, um filme onde a marca do realizador nunca deixa de estar presente.

sábado, novembro 19, 2005

Cinema em casa

Ora cá estou para mais uns destaques nesta semana. Desta vez serão seis os filmes evidenciados pois conseguem reunir quase todos os géneros de filmes possíveis. Face a isto, acho que é a selecção mais interessante desde que inaugurei esta secção.

Sem mais demoras, cá estão os seis filmes escolhidos:

Master and Commander: The Far Side of the World (2003) de Peter Weir



Durante as Guerras Napoleónicas, o galeão Surprise é atacado subitamente por um grande navio de guerra francês. Jack Aubrey, ilustre capitão da Marinha Inglesa, empreende uma das maiores perseguições através dos oceanos, para interceptar e capturar o seu adversário.
Com um eleco encabeçado por Russel Crowe, este filme coleccionou diversos prémios cinematogtráficos aumentando por isso a curiosidade à sua volta.

Domingo, 23:35, Lusomundo Premium
The Secretary (2002) de Steve Sheinberg



Lee Holloway (Maggie Gyllenhaal) acaba de sair de uma instituição mental. Ela candidata-se ao cargo de secretária no escritório do advogado E. Edward Grey (James Spader). Apesar de nunca ter tido um emprego na sua vida, Lee é contratada pelo misterioso advogado. Ao princípio o trabalho corre de forma normal mas rapidamente eles embarcam num jogo perverso de sedução...
Partindo de uma premissa bastante interessante, este foi um dos filmes indie mais aclamados de 2005. Sem dúvida, um filme a ver

Domingo, 19:55, Lusomundo Action

Jaws (1975) de Steven Spielberg



Um tubarão branco lança o caos e o pânico numa comunidade da Nova Inglaterra, onde os banhistas sofrem uma série de ataques.
Este é um dos primeiros, senão mesmo o primeiro, grande sucesso de Steven Spielberg. Recordo que foi com este filme que Spielberg teve um filme seu nomeado ao Óscar.

Domingo, 18H30, Hollywood

The Godfather: Part II (1974) de Francis Ford Coppola


O poder da família Corleone passa para as mãos do filho após a morte do patriarca. Os Corleone apostam agora em negócios mais ambiciosos. Ao mesmo tempo, vamos vendo em flashback a juventude do patriarca da família.
Depois do filme de estreia (que na semana passada também o sugeri), Coppola lança a sequela do filme que se iria tornar uma triologia. E se é verdade que o filme original costuma ser melhor que a sequela, a julgar pelos prémios e críticas, esta foi a excepção.

Domingo, 22:30, AXN


Der UnterganG (2004) de Oliver Hirschbiegel


Berlim, 20 de Abril de 1945. Hitler refugia-se num bunker situado sob a Chancelaria. Na superfície, os constantes bombardeamentos da artilharia russa anunciam a chegada do inimigo. Baseado nas memórias da secretária de Hitler, este filme reconstrói os últimos 12 dias do ditador
Um filme bastante recente, nomeado ao Òscar de Filme Estrangeiro, e que tem sem dúvida um grande desempenho.
3ªfeira, 23:30, RTP1

Hollywood Ending (2002) de Woody Allen



Wal Waxman é um realizador que no passado granjeara algum prestígio chegando mesmo a ser premiado pela Academia de Hollywood. Wal, no entanto, caíra no esquecimento e ganhava a vida dirigindo pequenos filmes publicitários. Tudo parece mudar quando Éllie, sua ex-mulher e noiva de um importante produtor, o requisita para rodar uma superprodução. Infelizmente, com o avolumar da responsabilidade Waxman entra numa espiral nervosa que o leva a contrair uma arreliadora cegueira psicossomática. Mas escondendo de todos o sucedido e com a ajuda do seu agente e de um tradutor chinês presente na produção, o excêntrico realizador irá continuar a dirigir as rodagens do filme.
Um filme de Woody Allen é sempre um filme de Woody Allen. Com uma ironia bastante acentuada em relação ao cinema, este é um filme a ver por todos os fâs da obra deste cineasta.

5ªfeira, 23:30, RTP1

[Sinopses: 7arte.net]

quinta-feira, novembro 17, 2005

Nas salas esta semana

DESTAQUE DA SEMANA
Chicken Little
De MARK DINDALL, com (Vozes) ZACH BRAFF, GARRY MARSHALL, DON KNOTTS, PATRICK STEWART, STEVE ZAHN, CATHERINE O'HARA, ADAM WEST, JOAN CUSACK e WALLACE SHAWN

Numa semana particularmente desinteressante em termos de estreias, o destaque vai para este Chicken Little, primeira longa-metragem integralmente em computador assinada directamente pelos estúdios Disney. Não tem vindo a ser particularmente bem recebido pela crítica nem se tem vindo a revelar um esmagador êxito de bilheteira (ainda que esteja a obter bons resultados), mas o conjunto de vozes que compõem o elenco e a recente qualidade do cinema de animação faz dele a estreia mais relevante de uma semana que, como já se disse, pouco tem de particularmente apelativo.

Outras Estreias:
The Bridge Of San Luis Rey
Autêntico fracasso de crítica e de bilheteira, isto apesar de um dos elencos mais fortes do ano, que conta com, nada mais nada menos, gente do calibre de Robert De Niro, Harvey Keitel, Kathy Bates, F. Murray Abraham, Geraldine Chaplin, Gabriel Byrne... E, de facto, pelo trailer nada de interessante parece sair desta obra, que se centra num acidente numa ponte que vitimou cinco pessoas, bem como na tentativa de um padre para descobrir as causas do desastre.

Deuce Bigalow: European Gigolo
Mais que provável sucesso de bilheteiras em Portugal, uma vez que se trata da sequela de Deuce Bigalow: Male Gigolo, com Rob Schneider a maquaquear como sempre a sua personagem que pouco deve à inteligência, agora no papel de um gigolô em viagem pela Europa. Não sou capaz de o recomendar vivamente (nem mínimamente), mas vai encontrar o seu público em Portugal...

Manô
Um filme de George Felner, com Diogo Infante e Adelaide de Sousa. Confesso que desconhecia por completo a existência desta obra, mas um visionamento do trailer deixou alguma curiosidade (mais pela ideia em sí do que pela qualidade do mesmo)... Parece inspirado em A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen, mas em português. Vamos lá ver o que sai daqui!

Bin-jip
Filme de Kim Ki-duk, que chega com a fama de ser um comento romântico e dramático, filmado esplendorosamente e quase sem diálogos. Pode ser a proposta mais arriscada da semana, mas é também uma das que mais interesse me desperta.

Rize
Documentário de David LaChapelle sobre um movimento de dança que tem vindo a cativar os americanos. À primeira vista, pode fazer algum furor entre os apreciadores da onda hip-hop embora surja como uma alternativa à cultura própria dos gangs. Uma interessante estreia em perspectiva.

Supercross
Vem com o cheirinho a xaropada sobre jovens que desejam vingar no mundo competitivo do supercross. Ou seja, é o Goal! mas com motas. Acho que está tudo dito.

terça-feira, novembro 15, 2005

Bronenosets Potyomkin (1925) de Sergei M. Eisenstein



Filme essencial na história do cinema, com a assinatura de um dos mais fascinantes artistas do século anterior: Sergei M. Eisenstein. A bordo de um navio de guerra, os marinheiros revoltam-se contra as condições precárias que têm de enfrentar diariamente e tomam o controle do barco. Os superiores são atacados e, já com o comando da embarcação, levam o navio de guerra até Odessa, onde tentam motivar o povo para se juntar à sua revolução contra o domínio czarista na Rússia. Estamos perante uma reencenação da tentativa de revolução soviética em Outubro de 1905. E reencenação é aqui a palavra chave, uma vez que o autor soviético monta perante as câmaras um espectáculo vibrante, estonteante e absolutamente magnífico em termos visuais, ao mesmo tempo que aterrorizante (tendo na famosa cena das escadarias de Odessa o seu ponto porventura mais marcante, quer na sua história, quer na demonstração da capacidade do realizador em fazer magia com as imagens).

O Couraçado Potemkin é um filme que tem vindo a satisfazer os gostos de muitas gerações de cinéfilos desde a sua estreia em 1925. Eisenstein transformou este filme de encomenda (por parte do governo de Lenin, já no poder, para celebrar a data dos acontecimentos retratados no filme) numa obra artisticamente fascinante. À beleza das imagens, Eisenstein junta um cada vez mais apurado trabalho de montagem capaz de tirar o fôlego a qualquer espectador. É fabuloso verificar como esta montagem, com um ritmo ditado de acordo com as exigências da história, se torna quase como que numa personagem extra, especialmente nas cenas de maior tumulto onde parece que até nos transporta para dentro dos acontecimentos. É uma obra magistral, daquelas que dão vontade de revisitar e reviver, e uma autêntica lição de cinema, feita numa época onde a ausência de som obrigava a que as histórias fossem contadas pura e simplesmente através da imagem e, do ponto de vista visual, O Couraçado Potemkin dificilmente poderia ser melhor.

domingo, novembro 13, 2005

Quinzena dos Realizadores

Esta nova rúbrica agora inaugurada pretende destacar a carreira de alguns realizadores tão apreciados pelos cinéfilos, analisar um pouco mais aprofundadamente a sua obra, etc... Assim, tal como fizemos há uns tempos aquando da estreia de Charlie and the Chocolate Factory analisando grande parte da filmografia de Tim Burton, iremos fazer para outros mestres: ao longo de quinze dias, os membros da equipa do Eternal Sunshine irão deixar pequenos comentários à obra de determinado autor. Assim, e aproveitando a estreia de Elizabethtown esta semana, abrimos a rúbrica com...

Cameron Crowe



Crowe nasceu a 13 de Julho de 1957 em Palm Springs, na California. Desde muito novo tornou-se um ávido apreciador de música e, após escrever alguns artigos para o jornal do liceu, Crowe começou a sério a carreira de jornalista aos 15 anos, escrevendo alguns artigos para, nada mais nada menos, do que a Rolling Stone, talvez a mais prestigiada revista de música do mundo. Alguns anos e umas centenas de artigos e reportagens sobre algumas das melhores bandas rock de sempre, Crowe escreveu o livro Fast Times at Ridgemont High, sobre um grupo de jovens de liceu, sobre as relações deles com a vida, o amor e... a cultura pop. O livro foi um sucesso e Hollywood foi rápida a procurar os seus serviços convidando Crowe a adaptar o seu próprio romance ao grande ecrã. O resultado foi o filme com o mesmo título, saudável sucesso de bilheteiras, que ajudou a lançar a carreira de jovens actores como Sean Penn ou Jennifer Jason Leigh. Era o início de carreira de Cameron Crowe em Hollywood, que viria a resultar ainda em mais um filme com argumento da sua autoria, The Wild Life, realizado por Art Linson mas que não se viria a revelar tão bem sucedido.

Assim, o passo seguinte acabou por ser lógico. Além do bem sucedido escritor e argumentista, Crowe lançou-se em 1989 na realização cinematográfica, iniciando-se com a excelnte e tocante comédia romântica Say Anything..., tendo como protagonista um jovem John Cusack. O sucesso crítico e comercial do filme (Roger Ebert atribuiu-lhe a classificação máxima) estabeleceu-o firmemente na indústria e apenas 3 anos volvidos e Singles estreia-se, mais uma vez com saudáveis resultados comerciais. Ambos os filmes se centram em personagens situadas entre o fim da adolescência e o início da idade adulta, exploram relações entre eles e possuem uma forte componente pop, cabendo nomeadamente à música um papel importantíssimo não só para estabelecer ambientes mas acima de tudo para caracterizar as suas personagens, algo que viria a verificar-se em todos os seus filmes.

Nenhum deste sucesso, contudo, se poderia comparar ao do seu filme seguinte, Jerry Maguire, de 1996, uma comédia romântica sobre um agente desportivo em crise existêncial e profissional. Com Tom Cruise como protagonista e apresentando ao grande público nomes como Renée Zellweger e Cuba Gooding Jr., o filme arrecadou 153 milhões de dólares só nas bilheteiras americanas, recebou inúmeros louvores da crítica e ainda deu a Crowe as suas primeiras nomeações para o Oscar, nas categorias de Melhor Filme e Melhor Argumento Original. Assim, o realizador passou a pertencer ao grupo de grandes nomes do cinema americano, e obteve total liberdade para conceber o seu filme mais auto-biográfico, Almost Famous, precisamente sobre um miúdo que, nos anos 70, começa a escrever artigos sobre música para a Rolling Stone. O filme estreou em 2000 e foi dos mais aclamados pela crítica nesse ano, e dando a Crowe o Oscar pelo Melhor Argumento Original. Quase de imediato, em 2001, estreou Vanilla Sky, novamente com Tom Cruise como protagonista. O filme, um remake do filme espanhol Abre los Ojos, de Alejandro Amenábar, foi um novo sucesso comercial, ainda que tenha sido um dos seus primeiros filmes a encontrar alguma resistência por parte dos críticos. O que é certo é que Crowe adaptou o filme espanhol à sua própria sensibilidade, tornando-o ao mesmo tempo num projecto claramente americano e, acima de tudo, numa obra pessoal, recheada de referências cinéfilas e musicais.

De referir ainda que, entre Jerry Maguire e Almost Famous, Cameron dedicou-se à elaboração do livro Conversations with Wilder. Seguindo a estratégia de Truffaut com Alfred Hitchsock, Cameron conduziu uma série de longas entrevistas com o realizador de Sunset Boulevard, um dos seus grandes ídolos, compilando depois um livro como resultado dessas longas horas de conversações.

E assim chegamos a Elizabethtown, a sua mais recente obra, actualmente em exibição entre nós. Esperemos que o filme marque mais um ponto alto numa carreira cinematográfica que ainda não conheceu qualquer falhanço e que, acima de tudo, está marcada por uma visão muito pessoal (e doce e optimista) da vida, que lhe confere uma clara marca de autor ao mesmo tempo que detém a confiança do grande público, algo raro no actual panorama cinematográfico. E que continue assim por muitos e muitos anos...

sábado, novembro 12, 2005

Cinema em Casa

Mais uma semana, mais quatro filmes destacados. Desta vez, as sugestões vão desde grandes clássicos de cinema, a cinema de autor passando por filmes que estiveram recentemente nas nossas salas de cinema. Mais uma vez os destaques são maioritariamente em canais da televisão por cabo pois, apesar da tentativa, é cada vez mais difícil encontrar cinema de qualidade nos canais abertos portugueses.

Vamos a isto.

Elephant(2003) de Gus Van Sant



Baseado parcialmente no massacre do Liceu Columbine, a acção desenrola-se num típico liceu norte-americano. Seguimos vários alunos nas suas actividades diárias, entre as salas de aula, corredores, refeitório, biblioteca, balneários, gabinetes administrativos. Para cada um deles, o liceu é uma experiência diferente: amistosa, traumática, estimulante, solidária, difícil.
Com o selo de qualidade do Festival de Cannes este filme, quer se goste ou não, é uma obra incontornável do cinema recente. Realizado por Van Sant, este já nos trouxe este ano o tão amado/odiado Last Days

Sábado, 23:00, 2:

The Ladykillers (2004) de Joel e Ethan Coen



O Prof. Dr. Goldthwait Higginson Dorr é um charlatão que reúne um grupo de ‘peritos’ para o assalto do século. A base de operações escolhida pelo ‘gang’ é a cave de uma insuspeita e devota velhinha, Sra. Munson. O problema é que rapidamente se torna evidente a falta de capacidade da equipa do Prof. Dorr para implementar o plano.
Os irmãos Coen e Tom Hanks juntaram-se para fazer esta comédia que conta com um excelente elenco e que promete episódios divertidos e humor negro.

Domingo, 22:00, Premium

The Godfather (1972) de Francis Ford Coppola



Uma família mafiosa luta pelo controle de vários negócios ilegais com outros grupos nos Estados Unidos dos anos 40 e 50. No centro do enredo está o processo de sucessão entre pai e filho para controlar o negócio.
Este filme é um dos grandes clássicos da história do cinema e uma obra obrigatória para todos aqueles que apreciam cinema de qualidade.

Domingo, 22:30, AXN

American Splendor (2003) de Shari Springer Berman



A vida de todos os dias pode ser uma coisa bastante complicada... Que o diga Harvey Pekar: autor de uma BD autobiográfica sobre a sua vida de todos os dias... Durante mais de duas décadas as páginas de “American Splendor” documentaram as atribulações mundanas, as experiências e os entusiasmos culturais de Pekar na sua cidade natal: Cleveland, Ohio.
Se este filme não tivesse grande qualidade, que acredito que tenha, pelo menos ficará sempre guardado na memória por nos apresentar um dos melhores actores do momento: Paul Giamati.

Domingo, 19H20, Gallery

[Sinopses: 7arte.net]

quinta-feira, novembro 10, 2005

Nas salas esta semana

DESTAQUE DA SEMANA
Elizabethtown
De CAMERON CROWE, com ORLANDO BLOOM, KIRSTEN DUNST, ALEC BALDWIN e SUSAN SARANDON

Apesar da fraca recepção crítica e desapontantes resultados de bilheteira, não se pode deixar passar em branco um filme com a assinatura de Cameron Crowe, autor de obras tão marcantes do recente cinema americano como Say Anything, Jerry Maguire ou Almost Famous. Ao que parece, estamos perante uma história simples, sobre um jovem deprimido (Bloom) que regressa a casa assim que sabe da morte do pai. À primeira vista, estaremos perante território já visitado este ano em Garden State, mas com certeza que Crowe irá imprimir ao filme o seu toque muito pessoal e, esperemos, oferecer-nos no mínimo uma agradável sessão.


Outras estreias:
Flightplan
Um thriller passado a bordo de um avião, supostamente de cortar a respiração. O trailer promete, além de que podemos contar com as presenças sempre marcantes de Jodie Foster e Peter Sarsgaard, mas há quem diga que não passa de mais um filme rotineiro e desinteressante.

Arsène Lupin
Baseado na mítica personagem do ladrão sedutor e cavalheiro Arsène Lupin, aqui interpretado pelo sempre excelente Romain Duris (e secundado por senhoras como Kristin Scott Thomas e Eva Green), o filme chega-nos com o rótulo de entretenimento sofrível, sem chama nem particular interesse. A ver por vossa conta e risco.


Don Quijote de Orson Welles
Trabalho de carácter experimental de Orson Welles, um dos maiores realizadores de todos os tempos. A obra está pronta desde 1992 e só não é a estreia da semana porque terá uma estreia limitadíssima e poucos lhe terão acesso. A curiosidade para ver este trabalho é enorme, embora obviamente não tenha sido concluído pelo mestre que nos trouxe Citizen Kane, que faleceu em 1985 e o resultado desta obra é uma montagem feita com algum material que Welles foi rodando ao longo dos anos. Será talvez uma das obras mais bizarras a estrear este ano, e quem puder, terá de lhe dar uma vista de olhos. Afinal de contas, é um Welles...

sábado, novembro 05, 2005

Cinema em Casa

Esta semana vou fugir um pouco à regra, e em vez de três serão quatro os filmes destacados. Tal acontece, pois esta semana teremos bastante cinema de qualidade na televisão (curiosiamente, ou não, nenhuns dos quatro filmes são dos canais privados portugueses).

Assim os destaques são:

Goodfellas (1990) de Martin Scorcese



Henry Hill sonha desde peqeuno em dar-se com os mafiosos do seu bairro de Brooklyn. Fascinado pela vida mafiosa, conseguirá fazer parte da organização começando como moço dos recados para ir ascendendo de posição à medida que fortaleca confiança nele depositada pelos seus superiores.
Um dos filmes mais aclamados de Scorcese, que deu um Óscar de Melhor Actor Secundário a Joe Pesci

Domingo, 22:30, AXN

The Green Mile (1999) de Frank Darabont



John Coffey é um enorme e maciço prisioneiro condenado pelo brutal assassínio de duas meninas. A sua gentil e ingénua natureza, e os poderes extraordinários de que é possuidor, contrastam vivamente com a sua aparência e levantam sérias dúvidas na mente de Edgecomb, o chefe dos Guardas prisionais no Corredor da Morte, sobre a sua culpabilidade.
Um dos filmes-sensação de 1999, da responsabilidade de Darabont que antes já nos tinha trazido o excelente The Shawshank Redemption.

2ªfeira, 17:55, Lusomundo Gallery

Good Bye Lenine (2003) de Wolfgang Becker



Esta é uma história passada na ex-Rda no período entre a queda de muro de Berlim e a reunificação alemá. Apóis a mãe sair de coma, o seu filho tenta a todo custo evitar que ela apanhe grandes surpresas e como tal tenta esconder as mudanças politicas ocorridas no seu país.
Um dos filmes alemães mais vistos e apreciados de sempre.

4ªfeira, 01:20, RTP1

Fa yeung nin wa (2000) de Kar Wai Wong



Chow Su e Li-zehn são vizinhos. Devido à ausência dos respectivos conjuges, Ambos começam a passar de cada vez mais tempo juntos. Pouco a pouco a sua amizade irá crescendo e juntos descobrirão de forma acidental que os seus respectivos conjuges mantêm uma relação sentimental. A dor provocada por esta descoberta une-os ainda mais. Juntos procuram uma forma de dizer aos seus pares que conhecem o seu romance.
Desculpem-me a parcialidade mas este filme é extraordinário. Com uma realização brutal de Kar Wai, com desempenhos muito bons dos actores, e com uma banda sonora belíssima este é sem dúvida um filme obrigatório.

5ªfeira, 00:15, RTP1
São estes os filmes que julgo terem maior interesse esta semana. Caso já tenham visto algum deles não hesitem em dar a vossa opinião.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Ils se marièrent et eurent beaucoup d'enfants (2004) deYvan Attal





Ils se marièrent et eurent beaucoup d'enfants
é, na minha opinião uma (senão mesmo a maior) surpresa do ano. O filme centra-se nas vidas de três amigos que, como pessoas normais, têm problemas na vida. Vincent é casado com uma mulher que, segundo os amigos, é a esposa que todos queriam ter. Vivem juntos, têm um filho e são aparentemente felizes, isto se excluirmos o facto de Vincent ter uma amante. George é igualmente casado mas aparentemente não tão feliz como o outro casal amigo, uma vez que não consegue lidar da melhor forma com os ideais feministas da mulher. E por fim, o 'bon vivant' Fred que, não sendo casado, colecciona mulheres e é, também aparentemente, o mais feliz e o mais invejado dos três. De facto, o filme vive das aparências das personagens e é na sua desconstrução que o filme se revela exímio.

Aliando excelentes registos cómicos com momentos drámaticos assinaláveis, "Ils se marièrent..." é um retrato cru e verosímil da amizade, da infidelidade e da vida a dois. Com cenas que ficarão concerteza na memória, este é um filme que marca pela sua jovialidade e pela abordagem descomplexada que faz da vida. No meio da amálgama de sentimentos que o filme retrata, Charlotte Gainsbourg emerge de uma forma estrondosamente natural. Com uma personagem de uma solidez tremenda, a actriz consegue um desempenho acima da média e tem muita responsabilidade nos melhores momentos do filme (é impossível ficar indiferente à cena na Virgin, ou à do café).

Outro dos pilares fundamentais do sucesso do filme é o realizador, argumentista e protagonista Yvan Attal, que se como protagonista está mediano, na realização tem de facto um desempenho superior. Manobrando com mestria a camâra, o realizador imprime vitalidade à película através de cortes entre planos e sequências que, principalmente no caso do restaurante onde jantam a mulher e amante de Yvan, resultam muito bem. Aliado ainda a uma montagem vigorosa, "Ils se marièrent..." é assim um objecto que vale por si só e que se destaca pela energia e pelo ritmo que impõe. Um filme quase obrigatório.


P.S. - Os últimos trinta segundos são inexplicavelmente maus. Mas, exactamente por serem tão insignificantes, prefiro assumir a sua inexistência pois não é justo criticar um filme que até ali estava a ser bem conseguido, pelos devaneios artísticos de última hora de Yvan Attal.

Classificação: