sábado, setembro 24, 2005

Goal! (2005) de Danny Cannon



O mundo bem que pode estar dividido em duas partes: aqueles que gostam de futebol e aqueles que se passam com a quantidade de jogos transmitidos pela televisão. Dito isto, é bem provável que nenhum destes dois grupos ache particular piada a este filme, prestes a estrear nas nossas salas. Tirando algumas piadas futebolísticas e cameos diversos de alguns craques da bola, especialmente de estrelas da Primeira Liga Inglesa - nas cenas de futebol, surgem imagens de arquivo bem recentes intercaladas com as filmadas especificamente para o filme, montadas de forma bastante eficiente - pouco há a retirar de uma história que segue todos os clichés típicos do filme do género, no caso um rapaz pobre que vai da América até Inglaterra para singrar no mundo da bola. É difícil recomendar o filme a quem quer que seja, nem mesmo aos grandes adeptos do futebol, uma vez que eu tenho a minha dose de vício futebolístico, que não é tão pequena quanto isso, e não fui muito à bola com isto (acrescentar riso para piada fácil do ano). Mas também gosto de cinema, e apesar de o filme estar mínimamente bem filmado, está a anos luz de ser uma obra-prima, ou um filme mínimamente recomendável, exceptuando para aqueles que tenham na MTV o seu canal televisivo de eleição. Resumidamente: para ver bom cinema, vão ver outra coisa qualquer; para ver o Newcastle United jogar, assinem a Sport Tv.

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quarta-feira, setembro 21, 2005

Natural Born Killers (1994) de Oliver Stone



O filme que Tarantino escreveu e rejeitou quando Oliver Stone adquiriu os direitos e o tranformou numa feroz sátira. Disparando em todas as direcções, o controverso realizador de Platoon ou JFK assinou aqui o seu filme mais brutal e cruel. Uns acusam-no de ter feito uma autêntica borrada, sem sentido e demasiado frenética. Outros, onde eu me incluo desde a primeira vez que o vi, consideram-no uma obra extremamente bem conseguida, excessiva, é certo, mas certeira em relação aos alvos que pretende atingir. E a principal vítima é a televisão, e a glorificação que esta faz de diversos temas, banalizando todos os tipos de violência em favor do espectáculo mediático.

Mickey e Mallory Knox são um casal de assassinos em fuga, procurados por autoridades de todo o país, mas também alvo de admiração por parte das massas. Wayne Gayle é o produtor de um programa televisivo sobre assassinos em série que pretende entrevistá-los, Jack Scagnetti é o polícia que os pretende apanhar e Dwight McClusky é o director de uma prisão... Em comum, estas personagens têm rasgos de violência, e acima de tudo um olho virado para o circo mediático. Stone é um realizador extremamente talentoso e inteligente, e o filme, apesar de violento, é também muito perspicaz e, em minha opinião, actual na forma como explora o tema. E além disso, é um filme formalmente tão arrojado que é capaz de deixar alguns espectadores até um pouco enjoados. A câmara não pára, a banda sonora é frenética, e ate são usados diversos stocks de filme, saltitando entre os 35mm, o digital, o super-8, a cor agressiva e o preto & branco (um trabalho grandioso do director de fotografia Robert Richardson), tudo isto acompanhando o delírio das personagens... É difícil recomendá-lo devido aos seus excessos, uma vez que se trata de um caso extremo de amor/ódio. Por estes lados, há muito amor em relação ao filme de Oliver Stone.

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terça-feira, setembro 13, 2005

Bewitched (2005) de Nora Ephron



Bewitched tinha tudo para ser uma comédia aceitável: um bom par de protagonistas (cuja química convence), uma realizadora que já tinha feito algumas coisas interessantes e era uma adaptação de uma série de tremendo sucesso na América. Contudo, o filme não convence nem enche as medidas de todos os fãs da série original pelo argumento ridículo que tem. Com cenas muito disparatadas, e sem um grama de piada, Bewitched vai-se arrastando ao longo das duas horas, tendo como verdadeiras muletas os actores principais . É verdade que algumas cenas provocam um sincero sorriso, mas isso é o mínimo que se pede a qualquer filme de comédia. Querem um conselho? Não vejam, não é, de longe, um filme obrigatório.

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segunda-feira, setembro 12, 2005

2001: A Space Odyssey (1968) de Stanley Kubrick



Pouco há a dizer, que ainda não tenha sido dito acerca desta obra metafísica de Kubrick. Não será novidade dizer que é um dos melhores filmes de sempre, possivelmente o melhor filme de ficção científica, etc. Mas a mim o que mais me transcendeu foi a relação homem-máquina, que nem sempre é a melhor, e principalmente os primeiros minutos do filme, intitulados "The Dawn of Man". Estou estupefacto, daí que nada do que diga faça algum sentido. Uma realização magistral, num filme completamente transcendente. Um ensaio sobre a humanidade e tudo o que lhe diz respeito. Wow!

sexta-feira, setembro 09, 2005

American Beauty (1999) de Sam Mendes



Este filme de Sam Mendes, que aparece em grande parte das listas quando se fala em melhores filmes dos anos 90, é uma obra-prima autêntica. É um filme portador de uma originalidade genial, que possui personagens extremamente bem edificadas, sendo Ricky Fitts a mais bem estruturada de todas elas.
Escondendo-se atrás de um sub-título de comédia, American Beauty pode assim ser encarado, é bem verdade, e apresenta-nos um humor bastante negro, o que me agrada e bastante. É talvez essa faceta que acompanha todos os acontecimentos, mais, ou menos trágicos, que o filme de Sam Mendes nos proporciona, sem nunca se desiquilibrar. Demonstrando uma realização milimétrica, mas apesar de tudo, também ela irónica e fantástica, Mendes filma uma película que é das melhores na sua área, quer a encaremos como comédia ou drama.
Com uma narração que vai sempre antevendo o final, que devido à sua ironia, até acaba por nos enganar, American Beauty é, também ele, portador de um twist final magnífico, talvez não tão inesperado quanto isso, mas muito bem conseguido em termos de cinema.
E aquele Alan Ball é o maior.

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terça-feira, setembro 06, 2005

The Island (2005) de Michael Bay



Já muito se falou, debateu e discutiu sobre a qualidade desta Ilha e, sobretudo, já muito se especulou sobre as capacidades de Bay. Desta forma, e apesar de achar que o meu contributo à discussão não será muito valioso, centrar-me-ei apenas no objecto cinematográfico sem entrar em discussões pessoais.

A Ilha começa, de facto, muito bem. É visualmente apelativo, é cativante, consegue prender o espectador, e tem lá escondido um argumento inteligente e bem pensado. O problema do filme é o facto de ter a habilidade de despachar tudo o que tem de bom em meia hora. Depois disto, o filme arrasta-se em perseguições mirabolantes, onde o argumento do filme e os diálogos dos personagens não são mais do que "Ai que eles vêm aí", "Foge, Foge..., "Ai que vamos morrer". Enfim... Da segunda parte do filme apenas se destaca Ewan MacGregor, que tem a melhor performance do filme, ao contrário de Scarlett que, na minha opinião, assina o pior desempenho da sua (curta) carreira.

Pronto, é isto a Ilha. Um filme que tem um início prometedor mas que depois se resvala para um jogo do gato-rato previsível e entediante.


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Land of the Dead (2005) de George A. Romero



Uma ligeira desilusão, uma vez que vem do criador do cinema de zombies e tem sido bastante bem recebido pela crítica nacional. Não que George A. Romero não cumpra aquilo a que se propõe: o filme tem sangue, membros separados dos corpos, acção, mulheres em trajes menores e seres humanos tão maus ou piores do que os mortos-vivos. Mas no geral, nem mesmo o tom de série B, ou o talento de Romero em criar alguns planos magníficos salvam o filme da precaridade do seu argumento, que tenta abordar uma série de assuntos que vão da corrupção humana à destruição do planeta mas que se esquece por vezes de o tentar fazer deixando o o espectador colado à tela. Assim, os momentos mais bem conseguidos são ofuscados por outros (muitos) não tão interessantes, que impedem a história e o filme de avançar da melhor forma. Além de que quando tenta assustar o espectador, falha muitas vezes o alvo, recorrendo a fórmulas já demasiado vistas para resultarem completamente eficazes. Falta tensão, que seria essencial ao sucesso. Recomendável apenas aos indefectíveis da série B.

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sexta-feira, setembro 02, 2005

Manhattan (1979) de Woody Allen



É difícil para mim comentar com justiça este filme de Woody Allen. É que Manhattan é, em minha opinião, uma obra perfeita, a melhor entre todas as do seu realizador e uma das melhores de sempre. São constantes os arrepios que sinto ao ver o filme, em particular na montagem inicial (um verdadeiro clássico dentro de um clássico) e a última cena, que me deixam completamente arrebatado a cada novo visionamento. É uma história sobre relações humanas, como qualquer história de Woody Allen, mas é acima de tudo uma carta de amor à sua cidade de sempre, Nova Iorque, tão comovente na sua honestidade.

Neste filme são retratadas várias vidas nova iorquinas, são parodiadas as excessivas tendências intelectuais, são analisadas as suas relações amorosas, as suas carências, as suas neuroses. Tudo num glorioso preto e branco (cortesia do grande director de fotografia Gordon Willis) e ritmado pelas composições gloriosas de George Gershwin e, claro, sempre condimentado pela discreta e perfeita realização de Allen, assim como o seu talento único para a escrita de diálogos e situações cómicas. E ainda que o humor em última instância acabe por ser um pouco triste, é sempre humor, e da autoria do maior génio no assunto. Uma obra-mais-do-que-prima.

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quinta-feira, setembro 01, 2005

Everyone Says I Love You (1996) de Woody Allen



Toda a gente que ouça falar de cinema já ouviu com certeza falar em Woody Allen. Este homem é e será exemplo para gerações futuras no campo do romance e do drama, e servirá como inspiração, bem como já o fez, a autores mais jovens que visionem envergar por estes caminhos. Já tínhamos nós esta visão de Allen quando este nos contempla com uma das maiores obras do seu ano de estreia e um dos melhores musicais de sempre. Com um elenco de luxo em grande forma e gags inspiradíssimos, Everyone Says I Love You é um filme encantador, alegre e tocante, que contém em si uma mensagem belíssima a transmitir ao público. É que este filme de Allen é mais do que um musical, é um filme de uma alegria inconfundível, que deixa qualquer um com um sorriso na cara; mais do que isso, é o auge de um génio, quer na realização, quer na escrita, e ainda na interpretação. Abordando diversos temas, desde os problemas conjugais ao drama familiar, Everyone Says I Love You é um dos filmes mais belos e encantados a que já tive a oportunidade de assistir, e um dos trabalhos mais completos de um cineasta num filme. Fabuloso!

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The Skeleton Key (2005) de Iain Softley



Cada vez parece mais evidente que o cinema de terror anda pelas ruas da amargura. The Skeleton Key é só mais um exemplo, entre muitos, de que este ramo específico da indústria de cinema necessita de melhores dias. Tirando M. Night Shyamalan (mas serão os seus filmes realmente de terror?), não me parecem haver grandes vozes nesta área, fabricando apenas filmes em série sem qualquer interesse ou ponta por onde se lhe pegue. E nem penso que se trate de um problema do cinema americano, uma vez que, se bem que seguindo as suas próprias características, o cinema oriental de terror também tem andado por baixo. Parece que a opção mais fácil é arranjar uma fórmula e variar infinitamente sobre ela... ou melhor, se ao menos houvesse uma mínima tentativa de variação, talvez não estivessemos tão mal. Mas o que é certo é que quer no caso americano quer no asiático, a tendência é para se fazer sempre o mesmo filme.

Se exceptuarmos talvez um ou outro momento mais bem conseguido de tensão e mistério, ficamos com um sentido de dejá vu absolutamente irritante. Os sustos verdadeiros são raros e, claro, acontecem quase sempre devido ao uso dos habituais enquadramentos, movimentos de câmara, efeitos sonoros e etc... Nem os actores salvam o filme da pobreza do seu enredo, que apesar de uma boa premissa e conclusão (que apesar de esperada, nem é a pior das opções), nunca consegue ser suficientemente envolvente para deixar o espectador com pele de galinha. E quando nem isso funciona num suposto filme de terror, então pouco mais há a dizer excepto que há coisas bem mais interessantes em que se gastar o dinheiro do bilhete.

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